Manobra Vergonhosa
1. Há onze meses, os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica entregaram ao Ministro da
Defesa um estudo abordando a degradante situação salarial dos militares
federais. Acompanha esse estudo uma proposta para, pelo menos, atenuar a atual
condição iníqua em que se encontram os integrantes das Forças Armadas
Brasileiras. Por essa proposta, a remuneração média per capita dos militares
federais passaria a equivaler à remuneração média dos servidores integrantes da
Administração Direta, categoria que, no âmbito do Serviço Público Federal,
percebe a menor remuneração média per capita.
Percentual de despesas com pessoal em relação ao PIB
Pessoal
|
2003
|
2004
|
2005
|
2006
|
2007
|
2008
|
2009
|
2010
|
2011
|
Adm Direta
|
1,32
|
1,41
|
1,34
|
1,25
|
1,29
|
1,27
|
1,42
|
1,38
|
1,38
|
Civis
|
2,63
|
2,68
|
2,54
|
2,59
|
2,59
|
2,58
|
2,89
|
2,74
|
2,70
|
Militares
|
1,18
|
1,06
|
1,05
|
1,09
|
1,04
|
1,05
|
1,05
|
0,98
|
0,94
|
Fontes:
-
Boletim Estatístico de Pessoal Nr 190 – Fev 2012
-
Série SCN52 – Produto Interno Bruto do IBGE
3. Essa anomalia indesejável pelos malefícios que traz às
Forças Armadas e à Família Militar vem sendo tratada de modo negligente pelos
órgãos e autoridades responsáveis pelo assunto, que sempre procuram ilidir ou
procrastinar uma solução consistente para um problema evidente e irrefutável. Não
é uma questão inesperada, de última hora, acessória, mas crônica, permanente,
fundamental e, no momento, dramática, pois grande parte dos militares em
atividade sobrevive com uma remuneração líquida mínima que, no universo dos
graduados, chega a atingir ao valor de R$
900,00 (novecentos reais). Essa quantia, em muitos casos , é a única disponível
para atender às despesas de alimentação, habitação, educação, transporte e
lazer de toda uma família. Isso para um militar sujeito aos rigores da
disciplina castrense, com direitos sociais restringidos, sem limite de tempo
para o trabalho diário, sempre disponível para deslocar-se para qualquer ponto
do território nacional, mesmo para regiões inóspitas, e que, no exercício da
sua atividade, arrisca a sua vida.
4. Pois bem, embora o
assunto venha sendo acompanhado e analisado há mais de quatro anos pelos
setores técnicos do governo, e exista a concordância geral sobre a situação
degradante dos militares, não obstante esse quadro, os militares foram
impelidos para o centro de um debate
político que não lhes diz respeito. No que se referem aos integrantes das
Forças Armadas, todas as questões técnicas há muito foram esclarecidas, mas a
solução postergada, talvez deliberadamente, de modo que, agora, está sendo
avaliada e discutida no contexto das reivindicações de integrantes de variados
setores do Serviço Público Federal e na sombra da crise financeira. Nesse
debate, as posições de diferentes personagens se contrapõem. O Ministro da Defesa,
por exemplo , em 26 de abril de 2012 , por ocasião da 21ª Reunião Ordinária da
Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional disse aos Senadores da República,
sobre a remuneração dos militares, o seguinte: “... A Presidenta Dilma é
sensível a esse tema. Tenho conversado sobre isso e espero encaminhá-lo. É o
tipo da coisa que, infelizmente, não podemos dizer que vai ser hoje, amanhã, de
tal forma ou de outra forma, mas há uma sensibilidade real para essa
questão...”. Autoridades dos Ministérios do Planejamento e da Fazenda, em
entrevistas e pronunciamentos variados, proclamam que se todas as reivindicações
salariais de militares e civis fossem acolhidas, os recursos necessários para
atender a essa demanda alcançaria o
montante de 92 bilhões de reais, o que seria impraticável, pois essa cifra representa,
aproximadamente, a metade do valor da
atual da folha de pagamentos dos Servidores Federais. Além do impacto
expressivo da despesa, haveria de se considerar, especialmente, a crise
financeira mundial, que aponta para a contenção das despesas com pessoal.
6. Ora, a questão salarial
dos militares, que percebem a menor remuneração entre todas as categorias do Setor
Público Federal, não surgiu agora, mas vem se arrastando há muitos anos, desde 2004,
e está ocasionando conseqüências gravíssimas para as Forças Armadas Brasileiras
e para a Família Militar. Esse problema não poderia ser apreciado no contexto
da discussão política sobre a formatação do Orçamento de 2013, como instrumento
de contraposição a reivindicações salariais de diferentes setores do Serviço
Público Federal. Já deveria ter sido resolvido há muito tempo. No entanto, é
evidente a intenção de empurrar os
militares para as controvérsias, que aparecem no contexto do debate político,
com o objetivo de não conceder nenhum reajuste salarial ou, pelo menos,
minimizar a sua dimensão.
Uma manobra vergonhosa.
Utilize este E-mail: ccs.spa2010@gmail.com