12 de abr. de 2011

Mídias televisivas: unidas pelo sofrimento alheio

Amadeu Epifanio - Rio de Janeiro(RJ)
Eu ainda fico perplexo, em pleno século 21, como a mídia, de forma geral ainda se alimenta da dor e do sofrimento alheio para satisfazer o seu ofício, de passar aos destinatários, a informação dos fatos que ocorrem na cidade, todos os dias. Existem dois tipos de notícia: a que é dada sobre o fato em si e aquela que não é notícia, mas sim a exploração do momento difícil pelos quais passam algumas pessoas, em decorrência do fato ocorrido. São momentos de dor, de desespero pela perda de alguém querido e que só interessa à elas este momento e no entanto a mídia (não importando muito qual emissora) explora esses momentos, como se a sociedade não tivesse noção que perder um filho é razão de muita dor e sofrimento; que perder sua casa na enxurrada não fosse razão de dor e sofrimento e, no entanto a mídia repete por várias vezes e por vários dias, pessoas chorando e em desespero, em razão de suas perdas, sejam elas vidas ou materiais. Tudo bem que se deve passar a notícia sobre os fatos, mas somente a notícia, não o momento de dor das pessoas, sobreviventes e vítimas de uma tragédia. Muitas vezes se ouve perguntas que ninguém acredita que o repórter esteja fazendo, do tipo: “- E aí, muita dor ? ou ainda: “ - E agora ? O que estão deixando as pessoas insensíveis à dor é justamente a banalização da dor e do sofrimento alheio, passados ao público como fato normal, decorrente de um acidente ou de uma tragédia e não como um momento único, difícil e doloroso e que ficará marcado para o resto da vida, arrastando aquele sofrimento porquanto durar a saudade daquele que se partiu de forma tão repentina. Portanto eu faço aqui um apelo às emissoras de TV (todas elas) que respeitem o momento de dor das pessoas e parem de divulgar de forma pública, como se fosse algo rotineiro e comum, num claro sinal de total desrespeito ao sofrimento alheio. Vês em quando uma dessas pessoas, atingidas pela dor recusa-se a gravar entrevista, numa tentativa de dar um “semancol” aquele jornalista inoportuno, que não se contenta em mostrar um velório apenas à distância, sem ter que se aproximar e mostrar as pessoas em pranto ou em desespero ou ainda, para enriquecer ainda mais a matéria, filmar as pessoas desmaiando de um dor tão insuportável, as que a mídia banaliza como se fosse algo comum e decorrente. Não é à toa que estes tipos de fatos acontecem, pois contaminam pessoas de uma forma negativa, banalizando o sentimento alheio, fazendo com que se tornem insensíveis diante da dor. O momento de dor, como nesse caso ocorrido nessa escola pública, é um momento único, não corriqueiro, porque ninguém perde um filho todos os dias. Muitas vezes o assunto foge um pouco ao momento de pânico, para se falar talvez do atirador, mas ainda sim a tela dividida em duas para que aquelas cenas que os pais tanto querem e precisam esquecer, tenham que reviver insistentemente, se quiserem assistir à um simples noticiário na TV. Me perdoem mas isso é fazer pouco caso do sofrimento alheio. A mídia precisa demonstrar um pouco mais de respeito à dor e o sofrimento daqueles que estão passando por um momento único em suas vidas e não ficar explorando isso com tanta “exclusividade”, se orgulhando tanto em ser sempre o primeiro a mostrar de que forma as pessoas perdem seu bem maior, de uma forma tão exaustivamente exibida, como se quisessem satisfazer um prazer mórbido pela dor e ao sofrimento alheio. Espero sinceramente que doravante este momento de dor, algo especificamente único (ainda que coletivo, mas ainda unitário para cada família), seja bem mais respeitado.
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Viver bem é Possível ! (mesmo na dor e de forma reservada, se é que isso é possível)
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Em respeito à dor a ao sofrimento das famílias vitimadas pela tragédia numa escola pública do Realengo -RJ